Em 1942, o maestro Abigail Moura (1904 – 1970) montou a Orquestra Afro-Brasileira com o objetivo de fundir a música erudita aos ritmos africanos. Após 79 anos, o conjunto voltou a se reunir para uma apresentação especial, que será lançada nesta quinta-feira (13), às 19h, no canal da Cultne.
Gravado ao vivo no final de abril, no Armazém da Utopia, região portuária do Rio, com todas as medidas de proteção contra o coronavírus, o espetáculo Orquestra Afro-Brasileira Em Cena, pretende mostrar o valor histórico e simbólico da música que eles apresentam. Além disso, há a intenção de provocar reflexão sobre a luta contra discriminação racial, já que o lançamento ocorre no dia em que a assinatura da Lei Áurea completa 133 anos.
Diretor artístico da orquestra, Carlos Negreiro, que nasceu no mesmo ano que o grupo, entrou para o corpo de músicos em 1962. E foi ele o responsável pela reunião que ocorreu em 2017, 40 anos após o hiato provocado pela ditadura militar, e está a frente desta apresentação.
Durante a trajetória na Orquestra, ele aprendeu e assumiu o legado de Moura e conseguiu fazer com que o trabalho mantivesse a importância cultural e de pesquisa.
“Nós fazemos uma música de alta qualidade e que tem a essência negra ancestral. Uma música agradável e que você entende que é produto de pesquisa. É um trabalho com uma base muito sólida”, disse em entrevista ao R7.
Esse trabalho fez da orquestra a referência de música negra de concerto entre as décadas de 1940 e 1950, mesmo não sendo considerada comercial.
A Orquestra Afro-Brasileira atualmente é formada pelos músicos Carlos Negreiros, Marcelo Amaro, Jovi Joviniano, Murilo O’Reilly, Pedro Lima, Rodrigo Revelles, José Maria, Tino Júnior, Alexandre Caldi, Rafael Nascimento, Levi Chaves, Diogo Gomes, Gesiel Nascimento, Sérgio de Jesus, Wanderson Cunha, Carlos Vega.
À frente do grupo de 16 músicos, Negreiros assume as vozes e compõe o corpo percussivo da orquestra. E é a percussão, simbolizada pelo tambor, que define toda história e sonoridade deles.
“A orquestra é como se fosse um grande tambor funcionando. Um tambor percussivo, harmônico e melódico.”
Segundo o músico, o instrumento sempre foi um símbolo de resistência do povo negro, especialmente dos escravizados, além de representar a ancestralidade africana, tão presente na música brasileira contemporânea.
“Os escravizados foram despojados de tudo, nome, identidade, tudo. Só que o colonizador não sabia que eles podiam trazer o tambor dentro do próprio corpo. Então tudo que você toca de ritmo brasileiro, tem a marca da ancestralidade africana. O povo em geral tem uma ideia de transmitir a música e a cultura brasileira como elemento de origem europeia, mas na realidade o grande centro da nossa cultura está dentro do contexto da africanidade. Nós somos África, em todos os aspectos.”
Por R7