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Histórias negras e defesa da Cinemateca marcam premiação da Mostra de SP; veja vencedores

SÃO PAULO – A 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo entregou na noite desta quarta-feira (4) os prêmios para os filmes escolhidos por seu júri, por um grupo de críticos e pelo público, além de homenagens. A cerimônia, adaptada às condições da pandemia, foi realizada na área externa do Auditório Ibirapuera, no Parque Ibirapuera, para cinéfilos que encararam frio e chuva em seus assentos no gramado.

Houve ainda transmissão on-line do evento, que foi comandado por Renata de Almeida, diretora da Mostra, falando do palco, e pelo apresentador Serginho Groisman, em uma colaboração virtual como mestre de cerimônia. O formato híbrido foi seguido também nos discursos dos vencedores: os que puderam estar em São Paulo falaram ao microfone usando máscara; os que moram longe enviaram vídeos de agradecimento.

O filme de ficção nigeriano “Eyimofe (Esse É o Meu Desejo)” e o documentário americano “17 Quadras” receberam o Troféu Bandeira Paulista, que é decidido por um júri a partir da lista dos filmes de novos diretores mais votados pelo público. “Eyimofe”, dos irmãos gêmeos Arie Esiri e Chuko Esiri, já havia sido exibido no Festival de Berlim, enquanto o documentário, de Davy Rothbart, fez parte da seleção de Tribeca. O número do título indica a quantidade de quadras que separam a casa da família negra Sanford do Capitólio, em Washington. A produção mostra a jornada do clã e seus contrastes com as partes mais ricas da capital dos EUA.

Mais lembrados

O júri, formado por Cristina Amaral, Felipe Hirsch e Sara Silveira (também vencedora do Prêmio Leon Cakoff neste ano, por sua trajetória como produtora), distribuiu ainda duas menções honrosas: para a atriz trans Thiessa Woinbackk, de “Valentina”, e para o documentário “Chico Rei Entre Nós”, de Joyce Prado. Mas o reconhecimento para esses dois títulos não parou aí.

A atriz Thiessa Woinbackk em
A atriz Thiessa Woinbackk em “Valentina” Foto: Divulgação

A ficção sobre uma menina trans de 17 anos, dirigida por Cássio Pereira dos Santos, recebeu o prêmio do público na categoria de longa brasileiro e, entre os documentários, a escolha popular foi para “Chico Rei Entre Nós”, que investiga a história do rei congolês escravizado que virou símbolo de luta pela liberdade em Minas Gerais.

Cena do documentário
Cena do documentário “Chico Rei Entre Nós”, de Joyce Prado Foto: Divulgação

Já entre os longas internacionais de ficção, “Não Há Mal Algum”, do iraniano Mohammad Rasoulof, foi eleito o melhor. A produção já conquistou também o Urso de Ouro do último Festival de Berlim. Para documentário o destaque foi “Welcome to Chechnya”, de David France, que retrata a perseguição que pessoas LGBT sofrem naquela região.

O voto popular foi coletado após as transmissões online, pela plataforma Mostra Play, que foi a base desta edição. Por causa da pandemia, neste ano, além das exibições por streaming, só foram realizadas sessões em drive-in ou ao ar livre, com distanciamento e uso obrigatório de máscara.

Para os que ainda desejarem aproveitar parte dos títulos selecionados para a edição, cerca de 130 deles ficam disponíveis na plataforma até o fim do dia 8 de novembro, como uma “repescagem”. Cada exibição custa R$ 6.

Críticos

A Mostra tem ainda prêmios distribuídos por um júri formado por críticos de cinema. Como melhor filme brasileiro eles elegeram o documentário “Glauber, Claro”, de César Meneghetti, sobre o exílio de Glauber Rocha na Itália. O escolhido entre os estrangeiros foi “Mosquito”, de João Nuno Pinto, a história de um jovem português enviado a Moçambique na Primeira Guerra Mundial.

Já o prêmio da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), este dedicado a filmes nacionais de diretores estreantes, ficou com “Êxtase”, de Moara Passoni. O documentário aborda a vida de Clara, uma jovem com anorexia.

Homenagens

A Cinemateca Brasileira, que atravessa uma crise que ameaça a sua segurança, foi lembrada nos discursos de grande parte dos premiados e, principalmente, no Prêmio Humanidade, entregue para todos os funcionários da instituição, que trabalharam por sua manutenção mesmo sem salários. Simbolicamente, 13 trabalhadores subiram ao palco para receber o troféu. Com uma faixa escrita SOS Cinemateca, afirmaram que os contratos emergenciais firmados pelo governo federal não são o suficiente para garantir a sobrevivência do local, que precisa do retorno da mão de obra especializada.

O Prêmio Humanidade foi destinado ainda a Frederick Wiseman, diretor que participou da edição da Mostra com o documentário “City Hall”.

A Cinemateca foi também o centro do discurso do diretor Walter Salles, premiado com prêmio da Fiaf (Federação Internacional de Arquivo de Filmes), por seu trabalho na preservação audiovisual no Brasil. Para ele, “a memória vem sendo atacada de forma tão violenta e obscurantista” no Brasil atual.

Veja abaixo a lista de filmes vencedores da 44ª Mostra:

Prêmio do júri internacional – melhor documentário

“17 Quadras”, de Davy Rothbart

Prêmio do júri internacional – melhor ficção

“Eyimofe”, de Arie Esiri e Chuko Esiri

Menções honrosas do júri

para “Chico Rei Entre Nós”, documentário de Joyce Prado;

para Thiessa Woinbackk, atriz trans que protagoniza “Valentina”

Prêmio do público – melhor ficção internacional

“Não Há Mal Algum”, de Mohammad Rasoulof

Prêmio do público – melhor ficção brasileira

“Valentina”, de Cássio Pereira dos Santos

Prêmio do público – melhor documentário internacional

“Welcome to Chechnya”, de David France

Prêmio do público – melhor documentário brasileiro

“Chico Rei Entre Nós”, de Joyce Prado

Prêmio da crítica – melhor filme internacional

“Mosquito”, de João Nuno Pinto

Prêmio da crítica – melhor filme brasileiro

“Glauber, Claro”, de César Meneghetti

Prêmio Abraccine

“Êxtase”, de Moara Passoni

Por O Globo

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