O que é ser de vanguarda? É nascer com ideias à frente do seu tempo, como a médica Nise da Silveira, que revolucionou o tratamento de pessoas com transtornos psiquiátricos. E o CCBB RJ inaugura uma mostra com o trabalho desenvolvido pela psiquiatra, que uniu ciência e arte.
A exposição “Nise da Silveira – A Revolução Pelo Afeto” fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro até 16 de agosto. É uma chance de conhecer com mais profundidade a atuação inédita de Nise. Lembre-se de reservar o ingresso online com antecedência.
A mostra ocupa três salas do edifício, reunindo cerca de 90 obras de clientes do Museu de Imagens do Inconsciente, ao lado de peças criadas por importantes nomes da arte nacional que dialogam com o universo da Dra. Nise. São trabalhos de Lygia Clark, Zé Carlos Garcia e Alice Brill, além de vídeos de Leon Hirzsman, Tiago Sant’Ana, entre outros.
Uma curiosidade: a psiquiatra rejeitava o uso da palavra “paciente” para nomear os internos dos hospitais psiquiátricos. Para ela, o termo “cliente” reforçava a relação de troca. Mas a psiquiatra preferia sempre se referir a cada um deles por seus nomes.
Médica, única mulher em uma turma com 157 homens, Nise ficou mundialmente conhecida pela ideia vanguardista de usar o afeto como metodologia científica no tratamento das pessoas com sofrimentos psíquicos.
Nise se rebelou contra os métodos agressivos aplicados em pessoas com transtornos mentais, como eletrochoque, camisa de força e confinamento. Foi na terapia ocupacional que ela viu a possibilidade de realizar um tratamento inovador.
Esquizofrênicos, por exemplo, ficavam livres para se expressar por meio da arte e frequentemente desenhavam mandalas. O resultado foi surpreendente: além dos indivíduos melhorarem seu comportamento, pintaram verdadeiras obras.
O Museu de Imagens do Inconsciente foi criado por Nise da Silveira em 1952, com a finalidade de reunir os trabalhos artísticos produzidos pelos seus clientes nos ateliês de modelagem e pintura. Era por meio da arte que eles conseguiam acessar as camadas mais profundas do inconsciente.
O acervo do museu tem 400 mil trabalhos variados, dentre os quais alguns foram selecionados para a mostra no CCBB RJ. Alguns dos destaques são as telas de Carlos Pertuis, que deixou cerca de 21 mil pinturas, e de Fernando Diniz, com 35 mil obras.
Também compõem a exposição os trabalhos de Adelina Gomes, que chegou a produzir cerca 17 mil peças, e de Emygdio de Barros, com uma produção de 3.300 pinturas. Já o cliente Arthur Amora desenvolveu uma surpreendente série com os princípios do dominó.
O CCBB RJ foi preparado para transportar o visitante ao mundo criado pela Dra. Nise! As três salas fazem o público passear pela trajetória da médica, como sua chegada ao Rio de Janeiro, a passagem pela prisão, as mulheres com quem conviveu, até fazer um mergulho no inconsciente.
Por Catraca Livre