Em Serra, no Espírito Santo, um pedaço da história foi recuperado.
A construção tem 171 anos. Ela ficava no centro de uma vila onde moravam mais de 3 mil pessoas. São as ruínas da Igreja de São José do Queimado, que demorou quatro anos para ser erguida. Foi construída por cerca de 300 escravos.
Os escravos que trabalharam para fazer a igreja tinham a expectativa que, em troca, ganhariam a liberdade, mas isso não aconteceu. Então no dia da inauguração, 19 de março de 1849, eles iniciaram no local uma das maiores revoltas do período da escravidão no Brasil, que ficou conhecida como Insurreição de Queimado.
O governo enviou tropas para conter a revolta, que durou quatro dias, e derrotou os escravos. O local virou um sítio histórico tombado pelo Conselho Estadual de Cultura. Mas ficou abandonado, como o Jornal Nacional mostrou duas vezes, em 2014 e 2015. O mato tomava conta de tudo. As paredes da igreja ameaçavam cair. Agora está bem diferente.
O terreno onde está o sítio histórico era particular e foi doado para a prefeitura que fez uma parceria com o sindicato do comércio atacadista para restaurar a igreja.
Uma estrutura de ferro reforçou as paredes centenárias. A fachada foi recuperada. Dentro, um reboco imita a arquitetura da época. As pedras, ruínas da construção original, foram preservadas. Os visitantes vão poder subir uma escada e ver todo o sítio histórico. A igreja não vai ser totalmente reconstruída, a intenção é preservar as ruínas. Por isso, não vai ter porta, nem teto. É um museu a céu aberto.
Aurélio é morador de Serra. Em 2014, encontramos com ele nas ruínas da igreja, preocupado porque tudo poderia desabar. A preocupação virou alívio. “Uma memória que estava sendo apagada e agora a gente consegue restabelecer o elo com a história, a nossa história”, destaca Aurélio Moura, jornalista.
A estrada que dá acesso às ruínas também foi pavimentada para que estudantes e turistas possam visitar o Sítio Histórico de São José do Queimado.
“Até hoje nós ainda, de coisas que nós negros produzimos, negros brasileiros, quase não temos direito de usufruir. Essa luta por igualdade de oportunidades, igualdade na vida, nós temos que ter isso e continuar lutando”, afirma o jornalista.
Por G1